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Texto publicado no sítio da ACE em 19/08/2020 Retornar textos da autora Retornar textos da autora
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CORONA, UM VÍRUS DEMOCRÁTICO?
No início da pandemia, era comum ouvirmos pessoas dizerem que o Corona Vírus era democrático, porque atingiu a todos os países, ricos e pobres e a todos os habitantes do planeta, independentemente de suas condições sociais.
Na verdade, o Corona Vírus atinge a todos e todas, mas mudam as condições de sobrevivência.
As grandes vítimas são desempregados, trabalhadores informais, moradores de periferia, pessoas em situação de rua, indígenas e negros, que são os mais afetados pela imensa desigualdade social, que caracteriza nosso país e que foi escancarada com a Pandemia.
Pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) mostra que a taxa de mortalidade em zonas de altíssima concentração de favelas no Rio de Janeiro, é o dobro (19,5%) na comparação com bairros ricos da cidade (9,2%).
A disparidade no acesso a direitos básicos, como o saneamento, deixam os mais pobres vulneráveis, reflete a socióloga Suelen Aires Gonçalves, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
O cumprimento das regras de higiene sanitárias, recomendada por especialistas, esbarra na falta de condições básicas, para uma grande parte da população, que não conta sequer com água encanada nas pequenas residências, que acomodam famílias de 6 a 8 pessoas. Muitas não possuem nem banheiro dentro da própria casa, precisando utilizar o banheiro de vizinhos. Felizmente existe solidariedade entre os pobres.
Feliz de quem pode ficar em isolamento em suas casas, pedir comida pelo aplicativo e trabalhar pela internet. Quem sai do isolamento para procurar trabalho, é o pobre que ficou desempregado. No entanto, muitos que não precisam, por ignorância ou irresponsabilidade saem de casa, sem máscaras e sem nenhum cuidado andam pelas ruas, a espalhar o vírus.
Além dos profissionais da saúde, que deixam suas famílias e vão atuar na linha de frente para salvar a vida dos outros, quem atua nos trabalhos ditos essenciais, são os pobres, que vivem nas periferias e tem que se aglomerar no transporte coletivo e, se forem infectados, não poderão ficar em isolamento em suas casas.
Para esses brasileiros que dependem de doações de voluntários e pela ausência do Estado, o Corona Vírus é colocado no final de suas preocupações. Antes do Vírus, é preciso alimentar as crianças, secar o colchão e os pequenos pertences molhados pela chuva e encontrar sustento.
No caderno DOC da ZH deste final de semana, o jornalista Marcel Hartman e o Fotógrafo Marco Favero publicam uma matéria com o título: "Onde o Vírus é mais Cruel", onde relatam entrevistas que fizeram com moradores do Morro Santana, em Porto Alegre. Comovente o que viram, ouviram e relataram, demonstrando como as condições de vida influenciam na disseminação do vírus.
Marina Lima Leal
Tramandaí, agosto de 2020.
 
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